parte 7
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
terça-feira, 6 de outubro de 2009
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
30/09/2009
NO VENTRE DE KALI
Acordo animada, revigorada pelos acontecimentos do dia anterior. Fui convidada de última hora para realizar uma oficina de Grupo de Movimento em Bioenergética , na semana do idoso. O evento foi um sucesso, a manifestação, os aplausos e os agradecimentos revigoraram a minha alma. Eu simplesmente amo trabalhar com grandes grupos. Neste dia havia 90 pessoas. E como é de praxe não havia preparada nada de antemão, esperava que fluísse na hora , com a energia do grupo , e foi o que aconteceu.
Neste dia ganho um presente de um amigo, uma caixa chinesa, antiga, contendo no seu interior de potes de porcelana decorados, neles continha tinta de aquarela. Simplesmente amei o presente! Ele continha uma mensagem, de carinho e reconhecimento. Segundo meu amigo : "Era Um presente para uma pessoa generosa".
O estado pós-morte em que me encontrava dava sinais de ir embora. Assim iniciei o dia, 24/09/09, e esperava terminá-lo tomando cervejas com outro amigo! NADA É CERTO NA VIDA E REALMENTE TUDO PODE ESTAR POR UM SEGUNDO!!!
Almoço tranquilamente, logo após eu envio um torpedo pelo celular confirmando a “cerva” da noite. De repente o celular toca , A. que reside próximo a minha casa me telefona perguntando sobre a minha mãe e meus familiares, deseja saber se todos estão “BEM”!! Pergunto, apreensiva o motivo de tal preocupação, ela me revela que um comercio de fogos na redondeza explodiu!!! As minhas pernas bambeiam, só consigo responder : - Não sei, vou ligar para casa.
O telefone de casa toca e toca e ninguém atende, procuro em minha agenda algum contato de celular de familiares. Encontro o número do celular de minha sobrinha e ligo imediatamente. Ela atende com voz de choro e já dizendo : - Tia aonde voce está...ta todo mundo bem , a avó, o Thi , só tio foi para o hospital com rosto cheio de sangue e com queimaduras. Agora a casa da avó sumiu.
Falo que estarei indo para lá e desligo o telefone.
Começo a sentir fortes cólicas intestinais, o medo gela minhas entranhas. Só sossego quando ver todos os entes queridos vivos. E meu irmão estará com o rosto queimado? Algum ferimento grave? Apreensão e desespero, assim eu assumo a direção do carro. Quando vou me aproximando da Avenida Santos Dumont, vejo os helicópteros sobrevoando a área da explosão em meio às nuvens de fumaça, várias ruas de acesso a área encontro-se bloqueadas. As minhas tremem tanto que mal consigo dirigir, vou atravessando os bloqueios policiais sempre me referindo: “Sou moradora” !
Quando entro na Rua Natal, o desespero toma conta de mim , Urrando digo : -“DEUS EU NÃO VOU SUPORTAR !!Porque!!!!!!!!!!Eu não vou suportar!!!!!!!!
Fumaça surgem do capô do carro, ele esta preste a "ferver" , tal qual a minha alma. A dor e o desespero é grande, e choro e urro digirindo o carro em meio a confusão e pessoas e congestionamento. Vou me aproximando da rua onde moro, vejo o bloqueio de interdição da rua, ao mesmo tempo não encontro vaga para estacionar o carro. Avisto uma entrada de garagem de carro, estaciono em cima da calçada e saio correndo do carro em direção ao bloqueio policial. Um guarda tenta impedir minha passagem, eu simplesmente pulo as faixas de contenção e fico a ouvir os xingos e murmurios do policial. Alguns amigos , moradores da redondezza vem ao meu encontro, abraçam-me dizendo :"Rô, calma estão todos bem "... Eu deixo os meus pertences com eles, bolsas, chaves de carro e etc. e vou em direção a segundo bloqueio policial que dá acesso a rua de minha moradia.
E tudo é um caos, multidão de pessoas, policia, curiosos, empresa e etc.., em meu desespero só consigo avistar o meu sobrinho , Thiago, que vem correndo em minha direção. Abraça-me com força e eu só consigo soluçar...soluçar....E ouço ele me pedir calma...calma tia...todos estão bem....
A frase ecooa em meus ouvidos como sedativo, o choro estanaca e volto aq sentir o meu centro de equilibrio. Vou ao encontro de meus familiares, abraço a cada um , um alivio espanda-se por todos lados e entranho. Um alívio que veu pra ficar , até hoje não foi embora.
Contam-me as suas histórias e como cada um salvou-se da morte e da destruição de nosso lar, aonde naquele instante só nos restava a roupa que cobria as carnes vivas de nossos corpos....
NO VENTRE DE KALI
Namastê
NO VENTRE DE KALI
Acordo animada, revigorada pelos acontecimentos do dia anterior. Fui convidada de última hora para realizar uma oficina de Grupo de Movimento em Bioenergética , na semana do idoso. O evento foi um sucesso, a manifestação, os aplausos e os agradecimentos revigoraram a minha alma. Eu simplesmente amo trabalhar com grandes grupos. Neste dia havia 90 pessoas. E como é de praxe não havia preparada nada de antemão, esperava que fluísse na hora , com a energia do grupo , e foi o que aconteceu.
Neste dia ganho um presente de um amigo, uma caixa chinesa, antiga, contendo no seu interior de potes de porcelana decorados, neles continha tinta de aquarela. Simplesmente amei o presente! Ele continha uma mensagem, de carinho e reconhecimento. Segundo meu amigo : "Era Um presente para uma pessoa generosa".
O estado pós-morte em que me encontrava dava sinais de ir embora. Assim iniciei o dia, 24/09/09, e esperava terminá-lo tomando cervejas com outro amigo! NADA É CERTO NA VIDA E REALMENTE TUDO PODE ESTAR POR UM SEGUNDO!!!
Almoço tranquilamente, logo após eu envio um torpedo pelo celular confirmando a “cerva” da noite. De repente o celular toca , A. que reside próximo a minha casa me telefona perguntando sobre a minha mãe e meus familiares, deseja saber se todos estão “BEM”!! Pergunto, apreensiva o motivo de tal preocupação, ela me revela que um comercio de fogos na redondeza explodiu!!! As minhas pernas bambeiam, só consigo responder : - Não sei, vou ligar para casa.
O telefone de casa toca e toca e ninguém atende, procuro em minha agenda algum contato de celular de familiares. Encontro o número do celular de minha sobrinha e ligo imediatamente. Ela atende com voz de choro e já dizendo : - Tia aonde voce está...ta todo mundo bem , a avó, o Thi , só tio foi para o hospital com rosto cheio de sangue e com queimaduras. Agora a casa da avó sumiu.
Falo que estarei indo para lá e desligo o telefone.
Começo a sentir fortes cólicas intestinais, o medo gela minhas entranhas. Só sossego quando ver todos os entes queridos vivos. E meu irmão estará com o rosto queimado? Algum ferimento grave? Apreensão e desespero, assim eu assumo a direção do carro. Quando vou me aproximando da Avenida Santos Dumont, vejo os helicópteros sobrevoando a área da explosão em meio às nuvens de fumaça, várias ruas de acesso a área encontro-se bloqueadas. As minhas tremem tanto que mal consigo dirigir, vou atravessando os bloqueios policiais sempre me referindo: “Sou moradora” !
Quando entro na Rua Natal, o desespero toma conta de mim , Urrando digo : -“DEUS EU NÃO VOU SUPORTAR !!Porque!!!!!!!!!!Eu não vou suportar!!!!!!!!
Fumaça surgem do capô do carro, ele esta preste a "ferver" , tal qual a minha alma. A dor e o desespero é grande, e choro e urro digirindo o carro em meio a confusão e pessoas e congestionamento. Vou me aproximando da rua onde moro, vejo o bloqueio de interdição da rua, ao mesmo tempo não encontro vaga para estacionar o carro. Avisto uma entrada de garagem de carro, estaciono em cima da calçada e saio correndo do carro em direção ao bloqueio policial. Um guarda tenta impedir minha passagem, eu simplesmente pulo as faixas de contenção e fico a ouvir os xingos e murmurios do policial. Alguns amigos , moradores da redondezza vem ao meu encontro, abraçam-me dizendo :"Rô, calma estão todos bem "... Eu deixo os meus pertences com eles, bolsas, chaves de carro e etc. e vou em direção a segundo bloqueio policial que dá acesso a rua de minha moradia.
E tudo é um caos, multidão de pessoas, policia, curiosos, empresa e etc.., em meu desespero só consigo avistar o meu sobrinho , Thiago, que vem correndo em minha direção. Abraça-me com força e eu só consigo soluçar...soluçar....E ouço ele me pedir calma...calma tia...todos estão bem....
A frase ecooa em meus ouvidos como sedativo, o choro estanaca e volto aq sentir o meu centro de equilibrio. Vou ao encontro de meus familiares, abraço a cada um , um alivio espanda-se por todos lados e entranho. Um alívio que veu pra ficar , até hoje não foi embora.
Contam-me as suas histórias e como cada um salvou-se da morte e da destruição de nosso lar, aonde naquele instante só nos restava a roupa que cobria as carnes vivas de nossos corpos....
NO VENTRE DE KALI
Namastê
terça-feira, 29 de setembro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
sábado, 26 de setembro de 2009
Tibetan Dances - Pilgrimage(朝圣)
Tibetan Dances - Pilgrimage(朝圣) 1/2
Tibetan Dances - Pilgrimage(朝圣) 2/2
Tibetan Dances - Pilgrimage(朝圣) 2/2
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
sábado, 12 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Convite ao que virá
“Há tempo muito tempo que eu estou longe de casa
E nessas ilhas cheias de distância
O meu blusão de couro se estragou
Ouvi dizer num papo da rapaziada
Que aquele amigo que embarcou comigo
Cheio de esperança e fé, já se mandou
Sentado à beira do caminho pra pedir carona
Tenho falado à mulher companheira
Quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil
E um cara que transava à noite no "Danúbio azul"
Me disse que faz sol na América do Sul
E nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil
Minha rede branca, meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade" como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar
Gente de minha rua, como eu andei distante
Quando eu desapareci, ela arranjou um amante.
Minha normalista linda, ainda sou estudante
Da vida que eu quero dar
Até parece que foi ontem minha mocidade
Meu diploma de sofrer de outra Universidade
Minha fala nordestina, quero esquecer o francês
E vou viver as coisas novas, que também são boas
O amor/humor das praças cheias de pessoas
Agora eu quero tudo, tudo outra vez. “
A última semana de julho chega com ela derradeira quinta-feira. Estranho essa coisa de se despedir, ir embora. Olhando 40 dias depois constato, eu estava completamente afetada, fora de centro e com o coração em frangalhos. Ir embora era difícil, mas permanecer ali seria muito torturante. Já estava cansada, no final de minhas forças e não suportava ver de tão perto tanta desconstrução , tanta alienação, fanatismo e temor.
O que a meu ver diferencia uma unidade de atenção a saúde mental de um manicômio são os fóruns coletivos de construção do serviço, a participação ativa dos usuários e familiares. Afinal de contas a prestação do serviço é para eles, a horizontalização do poder de decisão, modelo transdisciplinar de atenção, o respeito à diversidade e por fim a liberdade de falar, fazer ,escolher e posicionar
Sei que descrevo uma utopia, mas ela é um norte de nossos planejamentos, ações e reflexões. Nem tudo consegue ser completamente “assim ou assado”, mas temos que estar atento para que lado a balança penda.
Vivi durante doze anos a construção de um modelo de atenção a saúde mental orientado para valores não manicomiais. A luta foi árdua, pois tive que efetuar a desconstrução de meus manicômios-valores-teorias internos. A obra final não ficou perfeita, mas me orgulho dela. As perguntas que me atormentaram nestes últimos tempos: O que me motivou a aceitar ser gestora daquela unidade , arriscando a estabilidade de minha vida? Qual foi sentido disto tudo? Porque aceitei gestar o fim? O que ganhei em colocar a minha cabeça prêmio? Deixei alguma contribuição para aquele local?
Nestes últimos dias tenho encontrado as respostas, muitas delas não são saborosas, mas as mastiguei e as estou digerindo. E tenho encontrado perdão, paz e meu estado de espírito esta melhor. Consigo já dar pequenos passos, e até já consigo realmente sorrir. Então elas devem ter um quinhão verdade-realidade. Pelo menos a minha faceta da “verdade”.,
Não consigo ainda relatar o que venho digerindo, elaborando, mas uma certeza surgiu: “Eu acredito no que realizei, não sei se faria tudo outra vez, no entanto entendo o que fiz e o porquê fiz naquele momento. E tenho a certeza que aquela pessoa que fui não faria diferente do que fez.
Encontrei parte das respostas no dia de minha despedida do NAPS, no carinho, respeito que recebi dos usuários, dos amigos e de alguns colegas de trabalho. Escolho o ultimo poema que um usuário fez para se despedir de mim, ele exprime a minha trajetória e o grau de envolvimento com as pessoais a quem cuidei , convivi, amei e me indispus. Assim ele escreveu:
“Titulo : VARRER
Vou me despedindo como nunca aconteceu comigo, por isso convivi com você. Sobre o olhar de muitas fadas, portanto vou me encorajando em ser o dia final.
Fiz o novo amanhã em seu desejo, por isso o meu beijo está no fim. Sempre olhando a sua voz no meu mundo, o que aconteceu entre nós.
N.M . “
Outras respostas encontrei no curso Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa, em especial na vivência da criança interior, que relatei no texto “Re-inspirando “, postado neste blog. Muitos dos valores, ética e teoria do que acredito que define o ato de “cuidar” foram reafirmadas na palestra ministrada pelo criador da T.C.S.I. , Drº Adalberto Barreto.
E assim armada de minhas respostas-verdade vou me munindo de energia e coragem para reafirma que faria “tudo outra vez”. Entregue na vida-trabalho-profissão outra vez com paixão, ética, fé, criatividade e amor . Assim nasce a esperança de novo “dançar-criar” nesse imenso “salão-universo”.
"Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor
A chama no meu peito ainda queima, saiba nada foi em vão
A cuba-libre da coragem em minha mão
A dama de lilás me machucando o coração
A febre de sentir seu corpo inteiro
Coladinho ao meu
E então eu cantaria a noite inteira
Como eu já cantei e cantarei
As coisas todas que já tive, tenho e sei que um dia terei
A fé no que virá e a alegria de poder olhar pra trás
E ver que voltaria com você
De novo a viver nesse imenso salão
Ao som desse bolero, a vida, vamos nós
E não estamos sós, veja meu bem
A orquestra nos espera, por favor,
Mais uma vez, recomeçar
Ao som desse bolero, a vida, Vamos nós
E não estamos sós, veja meu bem
A orquestra nos espera, por favor,
Mais uma vez, recomeçar ."
Namastê
A “Luta Manicomial” continua em outros territórios.
Rô
Assinar:
Postagens (Atom)