CANTÃO DE BORACEIA - FOTO ROSELI JAN/10 - AONDE RESIDE O MEU CORAÇÃO

O DASA MAHAVIDYA ENTRA NUM FLUXO DE REEDIÇÃO.AO RELER VÁRIOS ESCRITOS AQUI POSTADOS, FICO PASMA E ENVERGONHADA. TOMO CONSCIÊNCIA DA DIMENSÃO DE MINHAS FACETAS DE MULHER. ALGUMAS BRILHANTES , OUTRAS TENEBROSAS.ENFIM PRESERVO AS TENEBROSAS, POIS NINGUÉM FOGE DO QUE É. E QUEM SABE AO REMEXER NESTES CASTELOS DE AREIA, EU ENFIM CONSIGA SARAR AS MINHAS FERIDAS.



QUANDO ALGO DEIXA DE EXISTIR ....NÃO HÁ O QUE DESCREVER....RESTA A LEMBRANÇA....QUE CADA UM PRESERV

QUANDO ALGO DEIXA DE EXISTIR ....NÃO HÁ O QUE DESCREVER....RESTA A LEMBRANÇA....QUE CADA UM PRESERV

DASA MAHAVIDYA - KAMLA

O DASA MAHAVIDYA
livro de areia
atemporal
tal qual as minhas lembranças.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Convite ao que virá


“Há tempo muito tempo que eu estou longe de casa
E nessas ilhas cheias de distância
O meu blusão de couro se estragou
Ouvi dizer num papo da rapaziada
Que aquele amigo que embarcou comigo
Cheio de esperança e fé, já se mandou
Sentado à beira do caminho pra pedir carona
Tenho falado à mulher companheira
Quem sabe lá no trópico a vida esteja a mil
E um cara que transava à noite no "Danúbio azul"
Me disse que faz sol na América do Sul
E nossas irmãs nos esperam no coração do Brasil
Minha rede branca, meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade" como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar
Gente de minha rua, como eu andei distante
Quando eu desapareci, ela arranjou um amante.
Minha normalista linda, ainda sou estudante
Da vida que eu quero dar
Até parece que foi ontem minha mocidade
Meu diploma de sofrer de outra Universidade
Minha fala nordestina, quero esquecer o francês
E vou viver as coisas novas, que também são boas
O amor/humor das praças cheias de pessoas
Agora eu quero tudo, tudo outra vez. “



A última semana de julho chega com ela derradeira quinta-feira. Estranho essa coisa de se despedir, ir embora. Olhando 40 dias depois constato, eu estava completamente afetada, fora de centro e com o coração em frangalhos. Ir embora era difícil, mas permanecer ali seria muito torturante. Já estava cansada, no final de minhas forças e não suportava ver de tão perto tanta desconstrução , tanta alienação, fanatismo e temor.
O que a meu ver diferencia uma unidade de atenção a saúde mental de um manicômio são os fóruns coletivos de construção do serviço, a participação ativa dos usuários e familiares. Afinal de contas a prestação do serviço é para eles, a horizontalização do poder de decisão, modelo transdisciplinar de atenção, o respeito à diversidade e por fim a liberdade de falar, fazer ,escolher e posicionar
Sei que descrevo uma utopia, mas ela é um norte de nossos planejamentos, ações e reflexões. Nem tudo consegue ser completamente “assim ou assado”, mas temos que estar atento para que lado a balança penda.
Vivi durante doze anos a construção de um modelo de atenção a saúde mental orientado para valores não manicomiais. A luta foi árdua, pois tive que efetuar a desconstrução de meus manicômios-valores-teorias internos. A obra final não ficou perfeita, mas me orgulho dela. As perguntas que me atormentaram nestes últimos tempos: O que me motivou a aceitar ser gestora daquela unidade , arriscando a estabilidade de minha vida? Qual foi sentido disto tudo? Porque aceitei gestar o fim? O que ganhei em colocar a minha cabeça prêmio? Deixei alguma contribuição para aquele local?
Nestes últimos dias tenho encontrado as respostas, muitas delas não são saborosas, mas as mastiguei e as estou digerindo. E tenho encontrado perdão, paz e meu estado de espírito esta melhor. Consigo já dar pequenos passos, e até já consigo realmente sorrir. Então elas devem ter um quinhão verdade-realidade. Pelo menos a minha faceta da “verdade”.,
Não consigo ainda relatar o que venho digerindo, elaborando, mas uma certeza surgiu: “Eu acredito no que realizei, não sei se faria tudo outra vez, no entanto entendo o que fiz e o porquê fiz naquele momento. E tenho a certeza que aquela pessoa que fui não faria diferente do que fez.

Encontrei parte das respostas no dia de minha despedida do NAPS, no carinho, respeito que recebi dos usuários, dos amigos e de alguns colegas de trabalho. Escolho o ultimo poema que um usuário fez para se despedir de mim, ele exprime a minha trajetória e o grau de envolvimento com as pessoais a quem cuidei , convivi, amei e me indispus. Assim ele escreveu:
“Titulo : VARRER
Vou me despedindo como nunca aconteceu comigo, por isso convivi com você. Sobre o olhar de muitas fadas, portanto vou me encorajando em ser o dia final.
Fiz o novo amanhã em seu desejo, por isso o meu beijo está no fim. Sempre olhando a sua voz no meu mundo, o que aconteceu entre nós.
N.M . “
Outras respostas encontrei no curso Terapia Comunitária Sistêmica Integrativa, em especial na vivência da criança interior, que relatei no texto “Re-inspirando “, postado neste blog. Muitos dos valores, ética e teoria do que acredito que define o ato de “cuidar” foram reafirmadas na palestra ministrada pelo criador da T.C.S.I. , Drº Adalberto Barreto.
E assim armada de minhas respostas-verdade vou me munindo de energia e coragem para reafirma que faria “tudo outra vez”. Entregue na vida-trabalho-profissão outra vez com paixão, ética, fé, criatividade e amor . Assim nasce a esperança de novo “dançar-criar” nesse imenso “salão-universo”.



"Começaria tudo outra vez, se preciso fosse meu amor
A chama no meu peito ainda queima, saiba nada foi em vão
A cuba-libre da coragem em minha mão
A dama de lilás me machucando o coração
A febre de sentir seu corpo inteiro
Coladinho ao meu
E então eu cantaria a noite inteira
Como eu já cantei e cantarei
As coisas todas que já tive, tenho e sei que um dia terei
A fé no que virá e a alegria de poder olhar pra trás
E ver que voltaria com você
De novo a viver nesse imenso salão
Ao som desse bolero, a vida, vamos nós
E não estamos sós, veja meu bem
A orquestra nos espera, por favor,
Mais uma vez, recomeçar
Ao som desse bolero, a vida, Vamos nós
E não estamos sós, veja meu bem
A orquestra nos espera, por favor,
Mais uma vez, recomeçar ."

Namastê
A “Luta Manicomial” continua em outros territórios.

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