CANTÃO DE BORACEIA - FOTO ROSELI JAN/10 - AONDE RESIDE O MEU CORAÇÃO

O DASA MAHAVIDYA ENTRA NUM FLUXO DE REEDIÇÃO.AO RELER VÁRIOS ESCRITOS AQUI POSTADOS, FICO PASMA E ENVERGONHADA. TOMO CONSCIÊNCIA DA DIMENSÃO DE MINHAS FACETAS DE MULHER. ALGUMAS BRILHANTES , OUTRAS TENEBROSAS.ENFIM PRESERVO AS TENEBROSAS, POIS NINGUÉM FOGE DO QUE É. E QUEM SABE AO REMEXER NESTES CASTELOS DE AREIA, EU ENFIM CONSIGA SARAR AS MINHAS FERIDAS.



QUANDO ALGO DEIXA DE EXISTIR ....NÃO HÁ O QUE DESCREVER....RESTA A LEMBRANÇA....QUE CADA UM PRESERV

QUANDO ALGO DEIXA DE EXISTIR ....NÃO HÁ O QUE DESCREVER....RESTA A LEMBRANÇA....QUE CADA UM PRESERV

DASA MAHAVIDYA - KAMLA

O DASA MAHAVIDYA
livro de areia
atemporal
tal qual as minhas lembranças.

domingo, 6 de setembro de 2009

Re-inspirando



Respire, não pare de respirar! Consigna repetida constantemente por uma das terapeutas.
A sensação que tinha era que meu tronco iria arrebentar. A couraça diafragmática me estrangulava , dividindo o meu corpo em dois. Os músculos intercostais ardiam e uma forte onda de dor percorria por todo o corpo. Em meio a esse desconforto mantinha a frequência respiratória que provocava a hiperventilação e entorpecia a minha mente . Uma onda de inquietude me invade , preciso me mexer freneticamente. Chacoalho as pernas e os braços, embora permaneça deitada sobre o colchonete. Um riso rompe através de meu diafragma, transformando-se em gargalhadas sem fim. Lunáticas e maníacas! De repente sinto um toque forte em minha mandíbula e uma voz me ordena: -”Agora não é hora de rir”! Num esforço interrompo as gargalhadas e volto a me concentrar na respiração circular.
A voz da terapêutica prosseguia nos guiando através da viagem que nos levaria ao encontro com nossa “criança interior”. Ao longe ouvia: -“Você esta preste a entrar em uma floresta desconhecida, aonde nenhuma pessoa esteve antes. É uma noite clara de verão, iluminada por um belo luar. Não tema! Não estará sozinho, um Animal Guardião virá para guiá-lo durante a sua jornada. Em minha mente encontrava-me em meio a escuridão, meus pés descalços tocavam o chão de terra batida. A minha volta via uma trilha cercada por árvores. Um cão surge latindo e abanando o rabo , e pula sobre mim . Era o Didi o cachorro que tivera em minha infância. Estou extremamente feliz, eu o amava muito e a sua morte foi muito trágica e depois dele nunca mais me apeguei ao um cão. O interessante é que após ele vieram vários outros animais, gatos e cães que foram animais meus de estimação. Acabo decidindo que só o Didi me acompanharia durante essa jornada. Durante a caminhada houveram vários encontros com entidades e moradores da floresta ,porém pouco me envolvi com eles. Só me importava em caminhar, subi e desci montanhas até chegar a entrada de uma caverna, ela era pequena e tive que me esgueirar entre a abertura para poder entrar. Lá dentro havia uma pequena trilha entre paredes de rochas. Caminho até avistar a sua saída e começo a chamar a minha criança pelo seu nome. Grito e grito e ela não aparece! Ao chegar próximo a saída instantaneamente sou transportada a outro tempo e lugar.
Lá estava eu aos 5 ou 6 anos brincando debaixo da cabana formada pela parreira , estava triste , brincava sozinha com os bonecos. Eles eram órfãos e moravam num casebre, abandonados lutavam para sobreviver na pobreza. Ao vera cena, já em prantos, corro em direção à criança, exclamando: -“Perdão eu te deixei aqui! Eu voltei para te buscar “. Abraço a menina e a seguro no colo. Sou novamente transportada para outro tempo e espaço. Agora a menina me segura pela mão e me retira do quarto escombro onde moro hoje. E novamente somos transportadas para uma praia, é o “cantão da praia de Boracéia” e lá ficamos : eu, ela e o cachorro Didi brincando na praia, nadando nas águas cristalinas.
A experiência acima é fruto da vivencia de renascimento que fazia parte do primeiro modulo de formação de Terapeuta Comunitário que participei a uma semana atrás. E ela desvendou nos dias seguintes vários nós de minha teia existencial.
Estou ciente que me encontro caída, derrotada e profundamente ferida e que não encontro forças para me reerguer. Diferente de outros momentos de crise em minha vida, aonde caia e levantava. No fundo me cobrava uma reação, alguns amigos também cobram e esperam essa atitude de mim. E ali entendi que passei a vida toda com medo da derrota, do fracasso, da traição, do abandono. Vivi me aproximando de pessoas, grupos, trabalhos, amigos e amores que me ajudaram a repetir e repetir este tema. E a nível contrafóbico embrenhei em lutas para vencer esse medo.
Não sei quando, nem porque ou se irei sair deste lugar que agora ocupo, não estou me esforçando para tal ato. Quero permanecer aqui e esperar as minhas pernas se cicatrizarem, para saber para onde irei viver ou morrer.
Esta vivencia me trouxe paz e respeito, não cobrem aquilo que não tenho para dar. E sei que hoje paixão, idealismo ganham novos significados para mim. Consigo me perdoar e agradecer aqueles que me feriram nestes últimos tempos, pois com suas ações entendi a minha miséria existencial. E me orgulho muito de minhas opções nestes últimos meses, com ela minha alma sai ilesa do inferno, não me transformei nos meus algozes.
Este encontro me fez pensar e repensar sobre vários acontecimentos destes últimos anos, nos aspectos afetivos e profissionais, que falarei posteriormente. Paro por aqui.
Namastê

2 comentários:

andre miolo disse...

Fiquei feliz em ler essa narrativa postada aqui. E o interessante, é que ela ficou de um jeito muito parecido a vc contando suas histórias em outros processos. Imagens tão fortes e de significados singulares. Tantos cães e tantos gatos vistos em outras aventuras.
Bom saber que boas novas chegam a ti.
Eu aqui, desse lado, também vou me readaptando, remodelando, reinventando apesar de estar um tanto mais escondido e explosivo. Acho que minhas incongruências e ambiguidades começam a aparecer mais, ou talvez esteja notando elas com menor temor. Faz parte do processo de se descobrir enquanto gente. Torço para que boas vibrações e novidades possam efetivamente fazer-te bem. Você merece!
Deixo aqui também, um muito obrigado pela partilha feita durante o tempo que trabalhamos juntos no dia-a-dia! Muito aprendi contigo. Manejos, jeitos de entrar nas loucuras do próximo, se aproximar de seus sofrimentos, estar ao lado e planejar modos e meios de tornar o turbilhão da vida um pouco menos tsunâmico.
Esse tempo de afastamento, que chamei de "conheça-te a ti mesmo" vem me mostrando coisas que ficavam escondidas nas relações não lá muito saudáveis do trabalho.
A cerveja ainda está de pé, gelando por um tempinho mais na geladeira, atré que esteja no ponto pra gente poder dizer de fato: SAÚDE!
Grande abraço
Namastê
andré

bagala disse...

É uma dadiva a tua presença no Dasa Mahavidya. Amigo um dia nós vamos brindar SAÚDE! Meu pai me disse antes de morrer, num dia em que eu chorava muito : - Voce ainda vai rir muito dessa situação , filha.
Não sei consegui rir daquelas desgraças, apesar da dor cicratizada. Ela sempre deixa a marca. Por isso coloquei tatuagens sobre elas. Como diz o Nata : Fico decorada e não dor-envelhida.
Assim ao mesmo tempo que sofro ao olhar a devastação destes atuais tsunamis, volta a lembranças daqueles finais de tarde lá no trampo, as sextas-feiras. E ai do risada sozinha.
É essa imagem que eu quero guardar.
Gde beijo, aguardo a cerva gelada, bem como os muritos e as tequilas.